E o que é a vida? Um minuto a mais ou um minuto a menos?

Toda vez que respondo que não tenho religião as pessoas se sentem ofendidas. E, quase sempre, entro numa saia justa. Como quando estava numa delegacia prestando queixa de roubo. Precisei responder qual era a minha religião e, ao informar que não tinha, faltou pouco pra alguém pular em cima de mim com algemas e me prender como se eu fosse a criminosa em questão.

Eu até simpatizo com algumas crenças e admiro o trabalho social de algumas igrejas, mas isso não significa que eu tenha de fazer parte desses grupos, frequentar e acreditar em tudo que me dizem. Mas as normas sociais acham que sim.

Eu nem deveria me incomodar tanto. Estou cansada de saber que seres humanos adoram se enfiar em rótulos e dão muito valor a eles. Mas eu não quero ser reduzida a pó só por não fazer parte de nenhum clubinho religioso. Me parece, que quanto maior o rótulo, mais credibilidade a pessoa tem: “Fulaninho de Tal da Igreja Sagrada do Santo Sacramento Sacro”. E, se você não tem religião, logo é enfiado no menor que tiver: “Ateu!”. 

Aí você tenta dizer que acredita em…Mas antes que você consiga explicar quais são suas crenças, a pessoa obriga você a se calar. Ou porque ela te ignora completamente e se recusa a, sequer, ficar perto de você ou porque ela começa a falar compulsivamente na tentativa de te converter. A segunda alternativa acontece com (bem) mais freqüência. Por fim, os sem-religão não têm o direito de falar sobre religião, são completamente vetados do assunto, como se discordar fosse sinônimo de desconhecer. 

Conheço muitas religiões e meu interesse por elas é muito mais antropológico que espiritual. Não sigo nenhuma – ainda bem que aqui ninguém vai me obrigar a ficar calada – porque acho que são exclusivas. Toda religião é formada por um grupo de pessoas que só fazem isso ou aquilo. Ou não fazem isso ou aquilo. E se todas são donas da verdade e a verdade de cada doutrina é diferente, então, uma exclui a outra e e exclui também um monte de gente. Sem falar que, considerando toda essa história de verdades e seus donos, a chance de uma pessoa estar na religião errada é de quase 100%. Nessa parte tudo bem, não deixo de seguir porque tenho medo de errar ou nada do tipo. Só não consigo entrar na onda de que eu conheço a verdade e sou melhor que os outros por isso. 

A única coisa que eu gostaria mesmo era dar minha opinião sobre as coisas do mundo – e as coisas que não são desse mundo – sem ter que eleger um só deus ou uma só teoria. Acho que a minha geração, que tanto critica a intolerância e inflexibilidade dos tempos passados ainda continua se comportando de forma muito rígida. Insistir em atitudes como obedecer sem contestar, de certo e errado, de melhor e pior, é continuar aceitando que aqueles que não compartilham das mesmas crenças ainda são os hereges, os pecadores, os impuros, os endemoninhados que merecem ser perseguidos e lançados ao fogo.

Vamos modernizar isso aí. E não estou falando de dízimo online. Estou falando de ser coerente. Como eu, uma pessoa que acredita que só se conhece questionando, vou crer em verdades incontestáveis? Sendo que todas elas são coisas que ninguém consegue provar? São só palavras e quem tem boca fala o que quer. E quem tem blog também. Por que em outros tempos quem tinha uma pena não ia fazer o mesmo? 

São muitos os questionamentos e não quero me alongar. Só gostaria de dizer que a palavra mais poderosa que tenho lido nos últimos tempos chama-se “compartilhar”. A internet e suas redes sociais reviveram esse termo ampliando seu significado e mostrando que, com cada um expressando o que pensa, dividir virou sinônimo de agregar. E, quando todo mundo participa, a gente consegue perceber que somos iguais, que somos IRMÃOS.

Sou mudança.

Sou movimento.

Sou inclusiva.

Sou moderna. 

E religião é um acessório que não combina comigo.

Comentários em: "Religião é coisa do passado" (5)

  1. Iarinha voce esqueceu algo que pra mim é primordial , nunca vi notícias como fundamentalista agnostico ou fundamentalista ateu invade realizou um atentado terrorista ou matou criancinhas numa escola. Pessoas pelo mundo se sentem no direito de matar em nome de Deus por justamente elas estarem com a razão.

  2. XOU!
    Não entendo porque as pessoas precisam ser tão catalogadas. Solteiro, casado, separado, viúvo, masculino, feminino, gay, hetero, bi, multi, pan, assexuado, ateu, católico, protestante (curiosamente, a maioria dos protestantes – inclusive os pastores – não sabem o que significa a palavra protestante e dizem que não são protestantes, pois não protestam por nada), ortodoxo, judeu, espírita, ubandeiro, islâmico etc. Parece que as pessoas são separadas por catálogos! E se você não quiser se encaixar em nenhuma das categorias você está fora da realidade!

  3. Minha querida Iarinha. Como ateu que sou ( há muito mais tempo do q vc, infelizmente rss ) quero te dizer que seu texto é um dos ( senão, o mais ) brilhante que já li em toda minha vida dedicada ao estudo das religiões.
    Você conseguiu colocar em pouco espaço uma análise clara e racional que dificilmente pode ser contestada.
    Difícil te admirar “mais”, mas vou tentar rs
    Um beijo desse ateu graças a todos os deuses.

  4. Oi Lali!
    Tenho andado sem tempo de visitar os blogs dos amigos queridos, coisa que gosto de fazer. Hoje resolvi dar uma paradinha aqui e confesso que fiquei encantada com seu texto. Também penso assim, no que se refere a religiões. Certas pessoas até emburrecem quando discutem esse assunto, sobretudo quando tentam nos convecer das suas “verdades”. Parabéns, Menina. Amei!

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