E o que é a vida? Um minuto a mais ou um minuto a menos?

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Experimento I

 

Hoje eu acordei dez para seis. Estava com frio, mas levantei assim mesmo. Escovei os dentes, tomei banho e fui tomar meu café da manhã. Ao terminar, vesti minha farda. Porque o chocolate sempre derrama quando eu visto antes?! Acho que você não tem a resposta, querido.

Por favor, por favor, por favor… pedi ao espelho na esperança de prender meu cabelo na primeira tentativa. Tentei novamente. Porque não consigo fazer um rabo de cavalo? Lá pra quarta tentativa, consegui. Mas não fiquei satisfeita. Pareço um E.T quando coloco o cabelo para trás.

Fiz a maquiagem e virei o rosto algumas vezes para ver se havia um ângulo melhor. Nada. Me sinto uma palhaça quando estou maquiada. Pra terminar, coloquei os óculos. Calculei 3 quilos a menos pelo cabelo preso e 2 pelos óculos. Fiquei 5 quilos mais magra. Saí do banheiro antes que a reflexão me atrasasse.

Joguei meu biscoito na minha ecobag – que em outros tempos chamaria de bocapiu – e corri para a porta.

Saí vagarosamente observando os jardins, inspirei algumas vezes tentando identificar os cheiros e ri com passarinhos barulhentos que passeavam no jardim da minha vó.

Fechei o portão atrás de mim e mergulhei nos meus pensamentos. Segui até o ponto de ônibus a passos lentos, apesar de ter a sensação de que são rápidos e cansativos demais. Só percebo a lerdeza quando vejo que gastei 15 minutos, enquanto qualquer pessoa chegaria em 5. Nem vou perguntar, querido diário, o porquê disso.

Esperei o ônibus tentando não deixar o mau cheiro da cidade interferir nos meus pensamentos. Entrei no ônibus. Atrasado. Dei bom dia ao motorista, o de hoje não respondeu. Idiota-mal-educado. Repeti a saudação ao cobrador que não me ouviu, devido o mp3 player enfiado em seu ouvido, mas não xinguei ele, ao menos retribuiu meu sorriso. Meu lugar preferido estava vazio, a cadeira mais alta do ônibus. Coisa de criança, eu sei. Sentei e continuei em meu devaneio.

Quando o ônibus parou no transbordo não desci. Já estava no que me levaria ao trabalho. Em segundos o ônibus lotou. Fiquei tensa. Ia começar a cantar, como sempre faço.  Mas meus pensamentos estavam bons, então continuei por lá. Foi até melhor, ninguém ficou me olhando com ar de repressão por eu estar movimentando os lábios silenciosamente, sempre acham que estou falando só. Na verdade, foi quase bom porque às vezes um sorriso escapava e, quando eu me dava conta, olhava constrangida para as pessoas ao meu redor. Ser feliz sozinho não é socialmente aceitável.

Quando vi que meu ponto se aproximava, saí pedindo licença e me espremendo entre as pessoas. Algumas se incomodaram com a palavra e se afastaram de má vontade, não consegui entender. Eu deveria empurrar?

No trabalho alguém comentou: “Sua maquiagem está fraquinha hoje, é bom retocar…”

Senti vontade de voltar ao ônibus lotado e passar mais alguns solitários minutos dentro de mim.